Uma vez, ao balcão de uma Casa do Mundo, enquanto esperava pelo café, interpelei um crítico literário-poeta. O qual, uns dias antes, sentenciara num diário que a palavra Iogurte não era uma palavra poética, dos poemas, subsumível à poesia. Não havia poesia no iogurte; o iogurte não era objecto poético; o iogurte estava portanto destinado à digestão y, fora de prazo, a ir para o lixo, inferi. Logo: mais destino nenhum havia para o iogurte.
O café demorava, y socorrendo-me de uma forjada ingenuidade poética indaguei o poeta, que também era crítico literário, sobre o seu poema do brigadeiro! Com um ar triunfante de poeta revelador do mundo y, em simultâneo, com a sua circunspecta seriedade de crítico literário lá me explicou, como se eu tivesse nascido ali, naquele momento, que, afinal, o brigadeiro era um ser real: um brigadeiro da cor dos brigadeiros.
Traziam o café, y eu, do meu nada ali nascido, exclamei: Ò! O iogurte naquele contexto erótico do Poema do Poeta era bem outra coisa.
O poeta & crítico literário, face ao apoteótico triunfo poético do iogurte sobre o brigadeiro, fechou o rosto y abriu muito os olhos ... como voltei as costas, no movimento rápido da entrega do café pelo empregado da Casa do Mundo, também não sei se ali morreu a sentença do iogurte y se este adquiriu outra dimensão quando provado pelo poeta-crítico literário que se precipita muito nas críticas aos versos y mais ainda nos versos.
F-Se! Isto do debutar de palavras na poesia, às vezes, não tem interesse nenhum. Excepção feita ao iogurte.