Tuesday, February 1, 2011

Reportagem: uma portuguesa à procura do filho egípcio




Com o Egipto a ferro e fogo, há uma portuguesa que desespera por notícias do filho. Gabriel El Hawash Silva tem três anos e foi levado para o Cairo, pelo pai, antes do Natal, contra a vontade da mãe.

A criança morava com a mãe em Braga, onde viveu a maior parte da vida. O Gabriel fala apenas português, não entende uma palavra de árabe e há mais de um mês que está desaparecido no Egipto.

Raquel Silva tinha 24 anos quando viajou de férias para Hurghada, no Egipto, na companhia de uma amiga. Foi nesta pequena cidade turística que conheceu Tamer, na altura gerente de um restaurante e amigo do guia turístico do grupo português.

Raquel e Tammer casaram em 2006, um ano depois nasceu Gabriel. E os três mudaram-se de Hurghada para Tanta, uma pequena cidade a cerca de 100 km do Cairo. Foram acolhidos pela família de Tamer, uma família modesta, tradicional e numerosa. E aí começaram os problemas.

Raquel viveu dois anos no Egipto, depois convenceu o marido a mudarem-se para Portugal. E em 2009, os três, chegam a Braga. Mas bastaram poucos dias para Tammer mudar de ideias e regressar a casa. Conta Raquel que o marido não gostou de Portugal e não se adaptou aos costumes ocidentais.

Quanto a Gabriel, Raquel garante que Tammer nunca se opôs a que a criança ficasse a viver com ela. Diz que foi uma decisão, aparentemente pacífica e consensual.

Formação em Portugal

Com um ano e meio Gabriel entrou na escola, em Braga. Todos sabiam que Gabriel tinha um pai egípcio, mas ninguém estava à espera que um dia ele desaparecesse. E os amigos todos os dias dão conta da sua falta.

Durante mais de dois anos, Gabriel viveu sozinho com a mãe em braga. Durante esses dois anos, Tammer veio por duas vezes visitar o filho, com quem contactava esporadicamente através da Internet.

Em Outubro de 2010, Tamer El Hawash chega a Portugal e instala-se em casa de Raquel. Os dois são, ainda, oficialmente casados e mantinham uma relação cordial. E Raquel abriu-lhe não só a porta de casa como a porta da escola. Longe de imaginar o que estava prestes a acontecer.

Fuga fácil

Dia 18 de Dezembro, Raquel sai de casa para ir ao encontro de uma amiga. Deixou Gabriel com o pai, não demorou mais de uma hora. Quando regressou a casa pai e filho tinham desaparecido. Saíram com a roupa do corpo. Tammer levou apenas os passaportes e a certidão de casamento. Não deixou nem uma mensagem, nem uma explicação. E Raquel nunca mais viu o filho.

Como ainda é casado com Raquel, Rammer não precisou de nenhuma autorização para sair do país com o filho. Saiu pelo aeroporto Sá Carneiro, no Porto, fez escala em Casablanca. Desembarcou no Cairo a 19 de Dezembro. Desde então, nunca mais deu notícias, nunca mais atendeu o telefone ou respondeu a e-mails. Há mais de um mês que Raquel não sabe nada do filho.
No Egipto, a família do marido diz-lhe que Tammer está desaparecido e que nunca chegaram a ver a criança.

Raquel está desempregada e não tem dinheiro para viajar até ao Egipto. Já foi ameaçada de morte, por um dos cunhados e receia ir sozinha para o Cairo.

Situação complicou-se

Com o coração apertado, Raquel sabe que o bom senso impõe muitos cuidados no que toca a uma viagem ao Egipto. Ainda por cima, os últimos acontecimentos no país não ajudam nada. O governo português já aconselhou a que ninguém vá para aquelas bandas, seja em turismo seja em negócios. Há milhares de manifestantes nas ruas, registaram-se mortos e feridos e ninguém arrisca uma previsão segura sobre o futuro próximo do governo do presidente Mubarak.

Raquel já bateu a todas as portas. Todos lhe prometem ajuda, mas até agora não se sabe nada sobre o paradeiro do filho. Contactado pela TVI, o pai do Gabriel não deu, até agora qualquer resposta. Falamos também com o Ministério dos Negócios Estrangeiros que diz apenas que está a acompanhar o caso.
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Por: tvi24 / Sara Bento (reportagem) Nuno Gomes e Luís Branco (imagem)