Menino Jesus Caminheiro, século XVIII
Madeira policromada e dourada, Museu de S. Roque, Lisboa
A oração era dirigida ao Menino Jesus Caminheiro como guia.
Vêem-se muitos peregrinos na estrada, nem sempre respeitando as regras de segurança, o ano passado morreram alguns por acidente. Vejo-os e não consigo deixar de louvar a sua fé, embora para mim seja inexplicável. Então, recordei-me de Machado de Assis.
Interessante é, também, avaliar a correlação entre a crise e a aproximação dos crentes à Igreja.
Fé
As orações dos homens
Subam eternamente aos teus ouvidos;
Eternamente aos teus ouvidos soem
Os cânticos da terra.
No turvo mar da vida,
Onde aos parcéis do crime a alma naufraga,
A derradeira bússola nos seja,
Senhor, tua palavra.
A melhor segurança
Da nossa íntima paz, Senhor, é esta;
Esta a luz que há de abrir à estância eterna
O fulgido caminho.
Ah ! feliz o que pode,
No extremo adeus às cousas deste mundo,
Quando a alma, despida de vaidade,
Vê quanto vale a terra;
Quando das glórias frias
Que o tempo dá e o mesmo tempo some,
Despida já, — os olhos moribundos
Volta às eternas glórias;
Feliz o que nos lábios,
No coração, na mente põe teu nome,
E só por ele cuida entrar cantando
No seio do infinito.
Machado de Assis, in Crisálidas