“Mãos de mulheres, cheias de ternura,
cozinharam seus filhos,
que lhes servirão de alimento,
quando da ruína da filha do meu Povo.”
Bíblia. Livro das Lamentações, Jod,
O que é um homem bom?, penso e pergunto-te
sem medo da palavra que não trova com o mundo,
novamente assomo sem pudor de te perturbar ainda; vivo assim:
sem medo da tua pele tão à beira de mim, sem me retrair nos olhos
e fico de borco desejando despenhadeiro - tua voz - essa vida com sotaque vigilante
e se a minha palavra se abeirasse dos teus olhos
não sei se seria um lago, neve, iogurte dentro do prazo, a leve vida,
ou Elisa cantando:Tanzânia, T-a-n-z-â-n-i-a, T-a-n-z-â-n-i-a,/
T-a-n-z-â-n-i-asem adivinhar um punhal
levando a morte ao seu corpo;
sei, talvez, que essa palavra seria sempre um objecto secundário,
um acessório de uma memória suja, demente ou ambição de vertigem
face de um fragmento rudimentar com que irias à procura
de qualquer coisa que te lembrasse
que não existe diz-que-diz-que na solidão
essa pele que absorve a fundo a noite
outra vez vem ter comigo, imploro!
não sei se seria um lago, neve, iogurte dentro do prazo, a leve vida,
ou Elisa cantando:
T-a-n-z-â-n-i-a
levando a morte ao seu corpo;
sei, talvez, que essa palavra seria sempre um objecto secundário,
um acessório de uma memória suja, demente ou ambição de vertigem
face de um fragmento rudimentar com que irias à procura
de qualquer coisa que te lembrasse
que não existe diz-que-diz-que na solidão
essa pele que absorve a fundo a noite
outra vez vem ter comigo, imploro!
acossa de relance - nos meus olhos - a tua mão, par
da mão que desossa com o cutelo os ossos, toca piano,
mão engatilhando, levando a extinção na sua força, fixando
os corpos no seu tempo “ A guerra foi à duas semanas”, diz o homem
— a mão de Sacha nas mãos
da mãe de Sacha; os olhos das mães crescendo
como a tensão nas mãos da mãe de Sacha —
tanta face de lume! quando pensas noutro humano
tão impartilhável como é para mim o teu corpo de remendos,
depois vêm as palavras que seguram
o homem empoleirado, podando a preceito os ramos
de árvores russas, isso, as árvores eram russas,
as copas das árvores russas, a cidade ao fundo,
um enquadramento, um plano tal como o plano do rosto de infância a ser enterreado
na improvisada vala comum,
a areia tapando o rosto infantil de olhos abertos,
os corpos amontoados na carrinha de caixa aberta,
mas esse relâmpago em câmara-lenta — a última imagem — os olhos abertos/
o bebé, e outras palavras juntam-se a ti:
porco-preto porco-branco
as copas das árvores russas, os sacos entrançados, a rua, o gato, o branco
a cultura do açafrão, Maria, a campa da Maria, as mãos da Maria
separando as lágrimas do rosto, para se sentir mais na morte do filho,
o filho da Maria a galope do cavalo entrando pelo lago num dia de verão
russo, a aldeia russa da Maria, o marido russo da Maria e a nova mulher russa
a Maria entrando terra adentro com as suas mãos respirando a força do sol,
a comoção do realizador com a morte e campa da Maria, com as palavras da filha de Maria,
a Maria fixando-se palavra viril - o que é um homem bom? agaro-te agora? procuro-te
e ficas a pensar na possibilidade do nome das coisas, das tuas coisas quotidianas, tão a jeito e próximas da tua indiferença,
(continua)
F-se! Poesia caseira ... não aguento ler aquela que se compra por aí, a da indústria!
PS.: Há links espalhados pelo texto... são de documentários, a fonte principal deste Coro....