Andei a ler "Das Paixões Passadas.". Claro, do meu abençoado Javier Marías. Deparei-me com textinhos com 20 anos, dos anos 87/90 y rondando esses universos. Havia, no canto do olho -desconfiado - um certo receio a desactualização, de coisas passadas, a cheirar a naftalina para sobreviverem como meros documentos de outras décadas em que vivi distraída das mundanidades que agora espreito com um olhar de despeito ( isso! despeito, fui posta à margem como coisa nociva y dispensável, como se não tivesse direito ao mundo ... autista me refiz), dado que se tratavam de artigos de jornal, o seu estatuto de certa percaridade y de opinião volátil era como uma sombra que à medida que lia se ia esfumando y dando lugar a uma narrativa que se ia transformando em rocha, uma espécie de verdades imóveis da vida do passatempo pensar. Mas nada disso, nada de imobilidades, eram antes verdades serpenteantes, que rastejam através do tempo. O assombro, uma vez mais. Uma vez mais encontrei as palavras certas, o diagnóstico certeiro, um certo conforto de que afinal não ando deslocada desta vida vivida y tolamente imersa nessa oferecida por aí como a coisa boa ( essa mesma que me agonia, que me impede até de arriscar o coração. É! tb tenho coração, mas faz de conta que não existe, estragá-lo com quem me olha como se eu não estivesse ao seu nível só porque vou resistindo ao charco de sapos! Como se Eu fosse coisa menor... É! Mudei de amor. Já não me encantam os contrabaixos desgrenhados nos seus acordes compassando os dias de luminosidade fosca transitando para noites chuvosas, de ondas batendo nas amuradas - sapatas - essas que impõem um limite ao mar da minha vida. Sim. Mudei de amor. Rica em "Nojo", aquele do artigo do JMarías, é fácil olhar de lado y para o lado, não estava errada, penso, y grata, ainda mais agora, por essa qualidade de tempo, posso pesar no balanço: fui tropeçando em "coisas", que se atiraram literalmente para os meus passos, sem por nada dar tive uma parte impagável. Quem diria? Eu, à margem, tida como coisa desprezível tão bafejada pelo grato. Volto os olhos para o "Das Paixões Passadas". Não, não me fizeram mal estes tempos. Não, não me molestaram estes tempos. Não, não me envenenaram os escarnecimentos, os desprezos, os equívocos y os desdéns envoltos com ar de surpresa quando me viam, como se fosse agradável saber-me presente. Não. Não era agradável a minha presença. Mas o simulacro de agradável esteve lá, como se fosse bom ver-me y Eu via o artifício. Sim. Mudei de amor. Já não gosto de contrabaixos. Já não tolero contrabaixos. É assim.
A propósito "Das Paixões Passada", como me diverti y divertirei com a Cultura, ou seja, O Artigo do Javier Marías - "Dos que Fazem Cultura" - tem verdades exemplares, pena é que por cá "os da cultura" desconheçam o artigo y assim se arrepiam na vida como baratas tontas. Aprecie y aplauda-os quem não se saiba distrair. Eu não. Já não aprecio Contrabaixos.
F-se! Nunca pensei ser possível mudar de amor. Mas é verdade. M-u-d-e-i.