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Saturday, March 5, 2011

LARA SANTOS, PIVÔ DO TVI 24 EM ENTREVISTA EXCLUSIVA

1) A Lara é natural de onde? Como é que foi nascer e crescer nessa localidade?
Sou natural de Lisboa.
Nascer e crescer nesta cidade é fantástico.
Lisboa é, sem dúvida, a capital europeia mais bonita de todas e a luz de Lisboa, é sempre a luz de Lisboa. Confesso no entanto que tenho uma costela alentejana e sinto essa zona do país também como sendo minha.


2) Durante a passagem pelo ensino básico ou secundário, qual foi a altura que começou a perceber que o mundo do jornalismo faria parte da sua vida?
Percebi que queria ser jornalista muito cedo.
Com 5 anos pedia microfones no Natal e nos aniversários e montava estúdios de rádio em casa onde gravava os meus próprios programas.
A minha mãe conta que o meu passatempo favorito era entrevistar a família.
A profissão estava-me no sangue.



3) No seu tempo de infância quando via televisão, quem eram os grandes comunicadores que idolatrava e porquê?
Nunca vi muita televisão, sempre ouvi mais rádio mas recordo-me da minha referência ser a Margarida Marante.
Gostava da forma como a Margarida conduzia entrevistas e pensava que um dia também eu podia estar naquele papel.

4) A Lara fez parte do grupo de música que marcou gerações «Onda Choc». Como é que surge esta sua ligação ao grupo?
Surgiu quase por acaso. Soube que havia castings e participei.
Recordo-me que na altura eram 16 mil crianças e foram escolhidas 8.
Foi uma fase muito engraçada da minha vida e hoje tenho a certeza que o facto de subir ao palco tão nova e de comunicar, através da música e dança, com muitas pessoas, ajudou-me e desinibiu-me do receio das câmeras.



5) Desde cedo e enquanto elemento pertencente a este grupo começa a participar em programas televisivos, nomeadamente quem não se lembra, do palhaço «Companhia». Que recordações lembra desse tempopode nos dizer em que tempo As recordações desses tempos são óptimas.
Era um grupo de crianças muito unido e muito bem disposto.
É curioso porque graças ás novas tecnologias, conseguimos reencontrar-nos todos novamente.
Uma experiência dessas marca a vida de qualquer criança.


6) Lara onde se forma, enquanto jornalista? A Lara tem uma voz inconfundível, uma voz dita «perfeita» para rádio. Que experiências vivenciou neste domínio, da rádio?
Licenciei-me na Universidade Lusófona de Humanidades e tecnologias de Lisboa.
Trabalhei em várias rádios nomeadamente na TSF, na Rádio Comercial e no Rádio Clube Português.
Esta última foi a experiência profissional mais marcante que tive.
Fazia um programa da meia noite às 2h da manhã chamado "Posto de Escuta".
As pessoas ligavam para mim para falar da vida, contar estórias e desabafar.
A ligação que criei com os ouvintes foi extraordinária e ouvi muitos episódios que me fizeram crescer muito enquanto ser humano e ensinaram-me também a relativizar os problemas da vida.

7) Que cuidados nutre com a sua voz?
Alguns. Não beber nada muito gelado, não estar exposta mudanças drásticas de temperatura. Os cuidados básicos para poder trabalhar com ela todos os dias.
8) Qual foi a 1.ª situação em que encarou a câmara, em directo, pela 1.ª vez?
Foi na Tvi, num directo em Almada, no despejo de várias famílias. Estava nervosíssima.
9) Como surge a oportunidade de vir trabalhar para a TVI?
Estagiei na Tvi em 2005 e estive lá quase 1 ano.
Depois saí para experienciar o mundo da rádio, e acabei por voltar em 2009.
10) Lara de forma decisiva, pivô da informação ou repórter no terreno?
Que pergunta tão difícil. Um bom pivôt de informação tem de saber o que é estar no terreno.
11) Achei curiosa uma de tantas reportagens da autoria da Lara e da sua equipa: “Crianças já têm a noção do que é poupar”. Como foi organizar esta reportagem e sobretudo lidar com uma classe tão especial, as crianças?Entrevistar crianças é sempre especial mas é um grande desafio.
Essa reportagem foi muito engraçada de preparar, mas sempre que se chega ao terreno, há muitas ideias pré-definidas que caem por terra. Os olhos do jornalista precisam de estar "lá" para ver e para conseguir o melhor ângulo de abordagem.



12) José Carlos Castro afirma numa entrevista “que o pivô é mestre-de-cerimónias”. De certa forma a apresentação do trabalho dos colegas depende da boa performance do pivô que introduz a peça. Partilha desta opinião?
Partilho mas as pessoas têm de ter noção que o mestre-de-cerimómias apenas dá a cara por uma extensa equipa que está atrás de um jornal.
São dezenas de pessoas cada uma com a sua função e sem as quais a realização de um bloco de notícias não era de todo possível.

13) Sente-se de certa forma, uma filha do TVI 24?
Sinto-me uma filha deste canal naturalmente. Estar num projecto deste o primeiro segundo é uma sensação indescritível.

14) Considera que muitas vezes pelo facto de os pivôs serem presença assídua nos telejornais, estas acabam por ser reconhecidas mais pelo público em geral, tornando-se inclusivamente alvo de interesse por parte das revistas, por exemplo, de televisão?
Acho que isso é natural, mas cada um faz a gestão da carreira da forma que quer.
Não me parece que a vida pessoal de um pivôt de informação possa ser de interesse público, a menos que a pessoa o permita.

15) O facto de ultimamente estar a apresentar «A Última Edição» no TVI 24 faz com que tenha de trabalhar até bastante tarde. Habitualmente a que horas se deita quando está à frente da Última Edição?
Geralmente deito-me por volta das 2h da manhã. Mas acordo cedo, nunca gostei de dormir muito e este horário exige disciplina e rotinas.

16) No dia seguinte, consegue levantar-se cedo, ou o facto de ter este horário mais nocturno, permite-lhe acordar mais tarde?
Como dizia na pergunta anterior, acordo cedo. 9h, 10h estou acordada. Gosto do sol da manhã, deixa-me bem disposta o resto do dia.

17) Os directos trazem quase sempre situações de imprevisibilidade, sobretudo, por exemplo, quando acontece algum problema com o teleponto, ou uma gralha no texto. Para além de um certo dia ter dito, aquando do desaparecimento de um corpo no mar, ter dito, «finalmente, o corpo deu à luz», que outras situações mais caricatas guarda no seu percurso profissional?Os jornalistas trabalham naturalmente com notícias ditas pesadas. Se não encararem tudo com uma certa leveza torna-se complicado. Há uma equipa fabulosa sempre à nossa frente e no nosso ouvido que nos faz sentir protegidos e que nos empurra para cima em momentos mais complicados.
As pessoas não imaginam a quantidade de imprevistos que acontecem num jornal. Mas isso é bom porque faz-nos crescer enquanto profissionais.


18) O facto de a Lara ter diariamente que dar cara a um espaço informativo do TVI 24 tem de previamente ter um cuidado com a imagem, como a roupa que veste. Em média, num dia normal de trabalho a que horas chega à redacção e se prepara para mais tarde entrar no ar?
Tenho naturalmente cuidado com a minha imagem não só porque dou a cara num espaço informativo.
Quando estou de férias ou folgas, gosto de andar mais confortável.
Chego à Tvi sempre às 18h00. Conto com 1h e meia de preparação, cabelos e maquilhagem e vou para o ar a primeira vez às 20h00.

19) Lara para além da sua vida profissional tem muitos cuidados com a sua imagem, estado físico, por exemplo. Agora de Inverno, por exemplo quantas vezes por semana costuma ir ao ginásio. Como consegue conciliar a sua vida profissional com a prática de exercício físico?
No Inverno sabe melhor ir ao ginásio. Geralmente vou de 2ª a Domingo, todas as manhãs. Não diz apenas respeito a uma questão de imagem, mas é uma espécie de terapia para a alma e para o espírito.
A minha vida processa-se a uma velocidade alucinante, por isso tenho necessidade daquelas 2 horas matinais para estar comigo, para cuidar de mim e para organizar as minhas ideias e o meu dia.

20) Para terminar, que mensagem gostaria de deixar aos nossos leitores, para que continuem a visualizar a informação transmitida no TVI 24?Porque é isenta e credível. O mundo em tempo real.

21) Projectos para o futuro?Crescer todos os dias profissionalmente porque sinto-me previligiada por acordar todas as manhãs para fazer uma coisa que gosto.



Sunday, November 28, 2010

À CONVERSA COM RICARDO PINTO: ENTREVISTA EXCLUSIVA AO JORNALISTA JOSÉ MANUEL FERNANDES.

1) José Manuel Fernandes com que idade e em que circunstâncias surge a sua ligação ao jornalismo?
Surge em 1976, com 19 anos. Tinha de começar a trabalhar (já estava casado) e surgiu uma oportunidade num jornal. Aproveitei e, depois, nunca mais larguei.

2) Em 1976 matriculou-se em Medicina, que logo trocaria pela Biologia, na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Que aventura foi esta? Perdeu-se um grande médico, ganhou-se um grande jornalista!?
Matriculei-me em Medicina ainda em 1975, mas nem completei um semestre. Senti que não tinha vocação. Quando voltei a estudar, após um atribulado processo de transferência, escolhi Biologia. De certa forma, era o que sempre tinha querido estudar.

3) Se não fosse jornalista o que se via a fazer, profissionalmente?
Quando optei por Biologia pensava vir a ser investigador. Sempre me fascinou a descoberta científica.

4) Onde é que se licenciou em jornalismo?
Nunca me licenciei em jornalismo. Quando estudei nem sequer havia licenciaturas em comunicação social.

5) Cada vez mais se fala do jornalismo enquanto um 4.º Poder que funciona em simultâneo como contra-poder. Acha que o jornalismo deve assumir essa mesma função?
Acho que o jornalismo deve funcionar como um contra-peso que limita o poder executivo ao permitir que os cidadãos estejam informados, questionem as políticas e pensem pelas suas cabeças. Tem também uma função de vigilância democrática, de "watchdog". Não acho que deva assumir-se como um poder autónomo.

6) Como é que vê a evolução do jornalismo sobretudo ao longo das últimas décadas em Portugal?
A evolução do jornalismo em Portugal no pós-25 de Abril foi muito positiva e teve, porventura, o seu melhor período durante a década de 1990. Nos últimos anos tem sofrido muito com a crise económica e a redução do tamanho das redacções.

7) A informação isenta e objectiva são características pelas quais o bom jornalismo deve primar, no entanto não considera que «por mais que se procure esse distanciamento, a personalidade do jornalista, o seu pensamento» acabam muitas vezes por demarcar determinadas posições?
Sem dúvida. O jornalista deve procurar ser isento tendo a noção de que, como qualquer ser humano, o seu olhar é necessariamente subjectivo. É melhor assumir que há sempre subjectividade do que fingir que se é imaculadamente puro, pois essa condição não existe.

8) A relação entre o político e o jornalista são vincadas de um misto de ambivalências. O político precisa do jornalista para transmitir as suas ideias, opiniões e o jornalista precisa dele para informar o cidadão. Não obstante quando o jornalista entra em campos de investigação com os quais o político não concorda gerasse muitas vezes um clima de tensão. Como é que vê na actualidade esta relação?
Não acho que a tensão actual seja muito diferente do que foi no passado e será no futuro. O político procura e procurará sempre formatar a informação de acordo com as suas conveniências, os jornalistas devem procurar toda a informação relevante para os cidadãos. Estes dois conjuntos nem sempre coincidem, pelo que é positivo estar consciente dessa tensão.

9) O José Manuel tem vindo a participar ultimamente em debates televisivos. A questão que lhe coloco é: não será para um jornalista muito mais difícil assumir o lado de «entrevistado» do que entrevistador, uma vez que a partir daí entramos no domínio da opinião subjectiva?
Quando participo em debates e quando dou opinião faço-o enquanto cidadão informado que tem a profissão de jornalista. Ou, se preferir, enquanto jornalista de opinião, que é um domínio da actividade que tem também toda a legitimidade.

10) Como é que vê o Jornal Público na actualidade?
Como o jornal onde trabalhei 20 anos e onde hoje continuo a colaborar.

11) Qual é a sua opinião relativamente ao final do Jornal Nacional de 6, apresentado por Manuela Moura Guedes. Acredita na tese que o poder político acabou por extingui-lo?
Não é preciso concordar com o que se faz num órgão de informação para defender que, em nome do pluralismo, ele deve existir desde que tenha público. O Jornal Nacional de 6 tinha público (registava boas audiências), pelo que não foi por desinteresse dos telespectadores que acabou. De resto não tenho qualquer dúvida que as pressões do poder político não se limitaram a um ataque do José Sócrates na abertura de um congresso do PS: foram mais profundas, mais dissimuladas e, por fim, mais efectivas.

12) Falou-se aqui há tempos atrás do programa «Prós e contras» em que participou e o tema estava relacionado com o processo Casa Pia, onde aliás, Carlos Cruz esteve presente. Agradou-lhe a forma como o programa foi conduzido, é que a determinado momento, à maioria do público a ideia que se passou era que a grande vítima ali presente, era Carlos Cruz!?
Não gostei nada da forma como o programa foi conduzido. Mesmo nada. Tentei contrariar alguma coisa, mas era difícil.

13) Cada vez mais se fala que é inevitável a vinda do FMI a Portugal. Acredita que essa seria uma boa solução para actual conjuntura do país?
Portugal vai ter de fazer muito mais reformas do que as que já estão em curso. Se não as conseguirmos fazer sozinhos - e não estamos a conseguir -, que venha o FMI o mais depressa possível.

14) Como é que reagiu à entrevista ao jornal francês Liberation de Dezembro de 2007 de José Sócrates, onde este o classificou como sendo o seu "melhor inimigo"?
Como sendo um sinal da obsessão que Sócrates tem com a sua imagem e da forma como lida mal com a crítica e, sobretudo, com a liberdade de imprensa. Achei que revelava uma mentalidade doentia.

15) Acredita que o seu poder reivindicativo oriundo desde os tempos MAEESL - Movimento Associativo dos Estudantes do Ensino Secundário de Lisboa ou do primeiro secretariado da União de Estudantes Comunistas (Marxista-Leninista) possa ter marcado definidamente as suas ideologias políticas, marcando profundamente o seu tipo de jornalismo interventivo?
Não tenho dúvida que a minha experiência de vida, nomeadamente nesses anos, marcou muito o que sou. Nunca fui conformista, sempre corri alguns riscos, nunca gostei de ser um "yes men" e sempre procurei pensar pela minha cabeça. Para além disso nunca fui indiferente ao destino da sociedade, pelo que ser interventivo é, para mim, a forma mais natural de estar na vida.

16) Para terminar, qual acredita ser a situação política deste país. Novas eleições em 2011?
Muito provavelmente. E era melhor que assim fosse: tal como estamos não vamos a lado nenhum. Os agentes políticos necessitam de se relegitimar e o país precisa, depois, de que tenham o sentido de Estado para um acordo a médio prazo.

Sunday, October 17, 2010

Entrevista exclusiva à Jornalista Conceição Queiróz, TVI



Na continuação do projecto lançado por este blogue, publica-se hoje a 4.ª entrevista. Devo dizer que tem sido um privilégio contactar com estes profissionais e com tudo aquilo que eles no ensinam, nas suas vivências, nos seus trabalhos, na sua vida...


Desta vez conversei com a jornalista da TVI, Conceição Queiróz, cuja entrevista poderá ler na íntegra:


(Foto de Ana Lopes Gomes)
1) A Conceição sai aos 12 anos de Moçambique. Que recordações guarda do seu tempo de criança nesse país africano?

Recordo essencialmente o sentido de família. Os almoços de domingo, os cheiros e os aromas da fruta, o camarão tigre, o Natal debaixo de 40 graus, as voltas à Ilha de Moçambique com o meu pai num barco a motor veloz. A vida em África é levada noutro ritmo. Temos todo um tempo que é absolutamente nosso. E isso não tem preço.



2) Sei que os seus pais gostavam que tivesse tirado um curso ligado à saúde, nomeadamente, fisioterapia. O que a levou a enveredar pelo caminho do Jornalismo?

Pois é… Os meus pais queriam muito que eu tivesse seguido medicina ou qualquer outro curso da área da saúde. Poderia ter sido fisioterapia, enfermagem, análises clínicas. Acabei por trilhar os caminhos do jornalismo, influenciada por uma professora de Português que gostava muito de mim, que puxava por mim, incentivava-me, fazia-me compreender uma série de outras coisas pelas quais não me interessava minimamente. Foi o caso do jornalismo. É verdade que cresci a ouvir histórias incríveis que as minhas avós contavam, mas não foi isso, definitivamente, que me levou a este mundo do jornalismo.



(Fotografia de Ana Lopes Gomes)


3) Quais foram as suas primeiras experiências profissionais? Ainda se lembra da sua primeira peça jornalística?

Comecei na imprensa, no Grupo Semanário. O meu primeiro trabalho foi publicado há 16 anos, em 1994. Foi uma entrevista à Campeã Nacional de Karting… Lembro-me perfeitamente.



4) A Conceição já foi professora de português. O que lhe apraz dizer acerca do novo acordo ortográfico nos países de LOP?

O novo acordo ortográfico é aplaudido por uns mas encontra resistência por parte de outros. As mudanças nem sempre são bem aceites mas parece-me razoável que nos habituemos às novas regras. De qualquer maneira, vivemos um momento de transição uma vez que até 2015 podemos manter a grafia que utilizamos hoje. É uma fase de adaptação e o novo conversor de documentos para este novo acordo ortográfico já foi apresentado.



5) Aqui há uns tempos atrás lançou o livro «Serviço de Urgência». Como foi contactar diariamente com pessoas que estavam entre a vida e a morte, pessoas que num dia viu eventualmente sorrir e no outro já não estavam entre nós?

Acompanhava-os a partir do momento em que davam entrada na Urgência do Santa Maria. E quando isso acontecia, as pessoas já não estavam bem. Foi das experiências mais duras e mais envolventes. Estar ali, frente a frente com a fragilidade do ser humano mas também com aquilo que é o limite da ciência. Há coisas que a própria medicina não consegue controlar. E isso desvenda-se claramente sempre que se perde uma vida.






6) A Conceição é uma mulher de andar no terreno, de investigar e a verdade é que muitas vezes deve estar semanas fora do País, no continente africano, por exemplo, com as mínimas condições, a que nós portugueses estamos habituados. Recorrendo um pouco à reportagem que nos apresentou, sobre os «Meninos do Jamba», como foram os seus dias, as suas rotinas, na vivência com estas crianças?

Como não sou um ser humano de rotinas (fujo a essa vivência estática, quase rígida que suporta a maioria dos homens e das mulheres…) adapto-me bem e rapidamente a quaisquer cenários. É no terreno que a minha profissão se concretiza, é ali que tudo ganha sentido, de caras com um outro mundo… Os entrevistados, os factos, a verdade. As crianças eram o centro das atenções na Jamba Mineira. Ouvi-as com atenção, sentei-me no seu chão. Percebi depressa que precisam apenas de uma oportunidade. Tratavam-me por mana, por madrinha, por mamã. Lutei para voltar a Angola e levar os donativos que juntei depois da emissão da reportagem. Os portugueses continuam solidários.



7) Pelo histórico das suas reportagens, denota-se que é uma mulher ligada a causas, aos outros. Sente que de certa forma com as suas reportagens está a ajudar os mais desfavorecidos?

Gosto das pessoas, acima de tudo. Não sei se as minhas reportagens ajudam os mais desfavorecidos mas é preciso mostrar, temos de revelar o que acontece. É bom que as pessoas compreendam de uma vez por todas que o mundo não começa nem acaba nas suas ruas, nas suas pracetas.



8) Ainda há pouco tempo, mais um trabalho seu e de toda a sua equipa premiado, «Música no Coração». O papel da música enquanto instrumento de inclusão social. Como é que nasce num jornalista, no caso, a Conceição, a ideia, a criatividade, de procurar histórias que nos preenchem, enquanto seres humanos? Ao fim e ao cabo como nasceu esta reportagem?



Tudo começa pela ideia, precisamente. Estou atenta ao que se passa… Pego no meu carro, vou aos sítios falar com as pessoas, compreender, tentar descodificar. Mas por vezes, uma breve num jornal também me pode inspirar e então fazes 30, 35 minutos em televisão a partir de uma notícia que passou completamente ao lado da maioria dos leitores. Outras vezes, escrevem-me, telefonam-me, falam-me de situações que merecem um trabalho de fundo. A reportagem “Música no Coração” nasce depois de eu ter visto na RTP 2 uma peça de dois ou três minutos e depois na RTP África com mais algum tempo… E mesmo assim eu achava que se podia fazer mais… Que aquela temática merecia continuar a ser tratada e claro, dando-lhe tempo. Fiz então um trabalho de 40 minutos mas tinha material para uma hora. Contrariando as expectativas acabou por ser a reportagem mais vista do ano de 2009 com picos de 2 milhões de telespectadores. Os miúdos da Orquestra Geração seduziram os portugueses.



9) «A Escola da Vida» foi outra reportagem de mérito, onde a Conceição acompanhou o dia-a-dia de estudantes de mais de 35 nacionalidades. Acha que o racismo, a exclusão social, são problemáticas que têm vindo a diminuir?

Quero acreditar que o racismo diminui. Temos bons exemplos. “A Escola da Vida” prova isso mesmo. Já muita coisa mudou mas é um caminho que estamos a fazer. A exclusão social não… Não me parece que esteja a reduzir. Porque aqui estamos a falar de algo que imediatamente se associa à pobreza, também à falta de poder e de acesso ao mais elementar. E a pobreza aumenta aos olhos de quem quiser ver. Obviamente que a situação de sem-abrigo é o registo extremo da exclusão social mas o desemprego faz com que se percam quase todas as redes sociais, inclusivamente os amigos. A exclusão social pode começar nesse processo de exclusão do mercado de trabalho… E é perigosíssimo.



10) Ainda há poucos dias, esteve num campo de refugiados, no Quénia. Quais são as grandes dificuldades de uma equipa de jornalistas ao entrar num local como este, onde a guerra, a fome, a morte são constantes?

Acho que tudo depende da flexibilidade de espírito, da capacidade de nos adaptarmos. Em relação às dificuldades… Jamais serei indiferente ao sofrimento humano. Onde quer que esteja. No Quénia, naquele campo de refugiados, vi o que nunca imaginara. Crianças enlouquecidas. Não tem explicação… Enlouquecem porque o pai foi esquartejado diante delas, porque a mãe estava grávida e abriram-lhe a barriga a sangue frio. Outros foram mutilados. É isso que custa. O resto dos obstáculos perde sentido para a equipa de reportagem. Falo por mim, naturalmente.



11) Em alguma reportagem que fez ao longo dos mais de 14 anos de experiência sentiu medo, onde, eventualmente, a sua vida pudesse estar em risco?

Nada de grave. Só fui apedrejada uma vez e tentaram atropelar-me ao de leve… Também fui ameaçada para não fazer uma certa reportagem que punha em causa o bom-nome de uma família a que pertencia uma enfermeira que atropelou mortalmente um rapaz de 20 e poucos anos.



12) Quando se trata de reportagem onde os entrevistados apenas falam crioulo, por exemplo, é a própria Conceição a fazer as traduções para o português, ou conta com a ajuda de um tradutor?

Aconteceu-me em Cabo Verde. Algumas pessoas só falavam crioulo. Pedi a um taxista que me dissesse como perguntar o que queria, escrevi exactamente como se pronunciava e fiz as entrevistas, dispensando o tradutor. No interior de Moçambique sucedeu o mesmo. Explicaram-me como pronunciar algumas das palavras, compreendi rapidamente, registei, tirei todas as notas necessárias e comuniquei através da língua local. Correu muitíssimo bem. Mas claro que há situações em que não se pode dispensar o tradutor.



13) Quando se encontra, em países, tão longe de Portugal, como por exemplo o Quénia, a reportagem é editada e pronta para exibição, já em Portugal, ou toda a matéria é enviada do país, onde se encontra no momento?

No Quénia tínhamos actualidade. As coisas estavam a acontecer no campo de refugiados. Eu e o repórter de imagem fomos enviando as peças já feitas, editadas, prontas para emissão, diariamente.



14) Assistimos há alguns meses a uma reportagem sua sobre a cidade de Lisboa, sobre o comércio tradicional, as tradições, as vivências de um povo. Quer nos falar um pouco sobre esta reportagem e sobretudo a sensação que sentiu ao saber, que um dos seus entrevistados, pouco tempo depois da reportagem faleceu?

Foi tão enriquecedora essa reportagem, esse pequeno retrato de uma Lisboa antiga. Passei a gostar ainda mais da capital, eu que já tinha paixão pela cidade. Queria conhecer melhor os que naturalmente resistem à modernidade, os que ainda vendem porta a porta ou faziam compras na drogaria da Rua da Lapa, onde o senhor Fernando (o entrevistado que faleceu) trabalhou durante décadas. Fiquei sem graça nenhuma quando recebi o telefonema do filho a avisar-me que o pai tinha morrido na véspera de Natal. A promoção da reportagem já estava no ar, não sabia o que fazer. O mínimo foi dedicar-lhe a reportagem e ir ao funeral, com missa de corpo presente na Basílica da Estrela. Não me esqueço que pediu muito que o avisasse do dia da emissão da reportagem e que lhe oferecesse um DVD com a cópia do trabalho. Já o fiz. Entregamo-lo ao filho.



15) A distinção do Prémio AMI - Jornalismo Contra a Indiferença, fá-la acreditar que é possível mudar mentalidades, alertar os governantes? Acredita que o facto de ser moçambicana, de cor, contribuiu ao longo de toda a sua vida numa luta mais aguerrida, contra o racismo, por exemplo?

O prémio é sempre a valorização do trabalho de bastidores uma vez que não é fácil fazer uma boa reportagem. Em relação às mentalidades, não é algo que se altere de um dia para o outro. Já os murros no estômago, esses alertas para determinadas realidades que se escondem, são necessários. Quanto ao facto de ser africana… Nunca usei isso como bandeira. As pessoas têm sempre muito mais curiosidade pelo meu trabalho e eu sinto isso mas não me incomoda minimamente. Sou sempre muito bem tratada, muito acarinhada pelo público.



16) Trocaria a vida de repórter por pivô de informação? Porquê?

Não, não troco. Até porque já tive a experiência de estúdio. Na Televisão de Cabo Verde apresentei o Jornal Desportivo e foi óptimo mas eu amo estar no terreno.







(Fotografia de Ana Lopes Gomes)




17) Conceição que tipo de trabalhos poderemos continuar a ver daqui para a frente da sua autoria?

Continuo na equipa da grande reportagem…



18) Para terminar esta entrevista, uma pergunta mais intimista - o seu cabelo, é de facto uma imagem de marca, de reconhecimento. Confesse-nos, que preocupações diárias tem com ele?

O meu cabelo?! Imagem de marca? Para mim é um problema. Uma trabalheira. Ora o original afro, ora um rabo-de-cavalo para não me chatear, ora tranças corridas para acordar penteada. Mas cá nos entendemos.



luso-africa.net

Sunday, October 10, 2010

ENTREVISTA EXCLUSIVA A MIGUEL CABRAL, JORNALISTA DA TVI

1) Miguel, com que idade surge o seu gosto pelo jornalismo? Em que moldes?
A paixão inicial foi pela rádio, depois de alguns anos de actividade na área a ligação ao jornalismo foi ganhando terreno até que fiquei rendido ao jornalismo.
2) Lembra-se dos telejornais do seu tempo de adolescência? Quem eram os seus jornalistas de eleição à época, porquê?
Ao longo dos anos 80 comecei a ver os telejornais e na altura recordo-me de fixar mais as histórias do que propriamente pivots.
3) Aos 16 anos começa a fazer rádio. Que tipo de programas fazia à época?
O início da rádio foi com um programa de desportos motorizados na Voz do Marão, mas de imediato integrei a equipa desportiva da rádio.
4) Onde tira a sua formação em jornalismo?
Na universidade frequentei o curso de Educado de Infância. A experiência na área foi fundamental para continuar ligado à comunicação social, através da participação em diversas acções de formação, colóquios e curso práticos.
5) Como é que nasce a sua ligação com a TVI, enquanto repórter?
O convite surgiu numa altura em que na rádio me dedicava por inteiro ao jornalismo, sendo inclusivamente colaborador em alguns jornais.

6) O Miguel ofereceu aos portugueses destinos de eleição, cá no Norte. Sente que, de alguma forma esta região se encontra um pouco esquecida pelo resto do país?
A região transmontana é algo esquecida por quem decide na altura de fazer grandes obras tais como melhores vias de comunicação mas a maioria dos Portugueses sabe que Trás os Montes tem produtos e paisagens únicas no País.

7) Estando tão longe da Mãe (TVI) conte-nos como é um dia do seu trabalho. Suponhamos há um acidente na região de Amarante. Como é que o Miguel é chamado ao local, alguém lhe comunica ou é o próprio Miguel que parte para a notícia, após a consulta de outros órgãos de comunicação social?
Na maioria da vezes são fontes estabelecidas na carreira que permitem chegar cedo aos locais e assim avisar a TVI de determinados acontecimentos.
8) Qual foi a reportagem mais emocionante, aquela que lhe apetecia sair dali devido à sua carga emotiva, eventualmente, morte, destruição…?
Há sempre reportagens que nos marcam, sobretudo aquelas que envolvem a morte de alguém. Recordo viver momentos de aflição num incêndio que no momento ne fez desejar sair do local o mais rápido possível.
9) O repórter costuma viajar muito. Que países já visitou, enquanto jornalista?
Como correspondente numa delegação a saída do País em reportagem não é muito frequente mas já tive oportunidade de estar em alguns locais, tal como a Bósnia com várias reportagens sobre os militares portugueses ali colocados.

10) Como é que analisa a relação entre política e jornalismo nos dias de hoje?
Sempre foram áreas que se tocaram pela importância que as duas têm na sociedade. No jornalismo há que tentar mostrar à opinião pública os factos sempre com rigor.

11) Como é que na sua perspectiva nasce a reportagem exclusiva para um jornalista?
Através de investigação. Área que ainda está por desenvolver pois exige muitas horas de dedicação que por vezes os jornalistas não têm pois existem muitas reportagens a elaborar.
12) Quando o Miguel está de férias, consegue-se desligar da actualidade nacional, ou a sua profissão fala mais alto e tem necessidade de se manter permanentemente actualizado?
É difícil desligar, mas umas férias sabem sempre bem.
13) Como vê a relação entre as novas redes sociais (facebook, twitter) e o jornalismo?
Hoje em dia a maioria das pessoas está ligada a redes sociais e um jornalista deve estar atento à nova realidade que é a possibilidade de partilhar ideias por exemplo sobre reportagens.
14) O que lhe dá mais prazer fazer, escrever a notícia (imprensa escrita), ou fazer o seu pivô para televisão? Porquê?
A reportagem em si é algo que dá gosto fazer pois trata-se de contar uma história ao público através dos meios que nos são facultados.
15) Ainda hoje, depois de alguns anos a fazer directos, sente aquele «friozinho» ao ver a luz da câmara acender?
Curiosamente nunca senti muito esse “friozinho” pois desde sempre, sobretudo na rádio me lembro de fazer directos.
16) O bom jornalista é aquele que cresce todos os dias. Que conselhos gostaria de deixar aos futuros jornalistas deste país?
Sem dúvida, todos os dias se aprende algo com alguém, e muitas vezes é em locais quase isolados mas com pessoas com história de vida impressionantes. Quem gostar de jornalismo deve emprenhar-se ao máximo para ter futuro na área que é realmente cativante.


SPORTING - O CLUBE DO CORAÇÃO DO JORNALISTA

ENTREVISTA DADA PELO JORNALISTA À UTAD

Sunday, September 26, 2010

À CONVERSA COM RICARDO PINTO: ENTREVISTA EXCLUSIVA A RITA MARRAFA DE CARVALHO, JORNALISTA DA RTP

1) Rita como é que nasce esta paixão pelo jornalismo? Era também daquelas crianças que se punha em frente ao espelho a apresentar o telejornal?
Não, de todo. A apresentação de um espaço informativo nunca foi factor de fascínio. Achava limitativo. Interessava-me o terreno, o contar a história, o estar nos locais e interagir com os intervenientes. Comecei na Rádio e Televisão Escolar, no Liceu. Um simples Clube de Comunicação Social que acendeu um rastilho intenso... uma vontade de contar as histórias reais. A partir daí, quis experimentar tudo o que me apareceu na área da comunicação: rádio local, imprensa escrita, até produção de cinema. Depois, naturalmente, seguiu-se o curso de Ciências da Comunicação, na Universidade Nova de Lisboa. A necessidade de saber como contar, modos de contar, de intervir, de dominar os modelos comunicacionais.



(Foto de Garriapa - jornalista da SIC)

2) Há quantos anos está nesta profissão e qual foi o local da sua rampa de lançamento?
Eu comecei a fazer rádio na SeixalFM com 17 anos. Depois, foi em crescendo. Já lá vão 16 anos.


3) Voltaria a fazer tudo da mesma forma?
Julgo que sim. Não há nenhum passo de que me arrependa. Aprendi sempre algo. Mesmo quando a experiência foi menos gratificante ou prazeirosa, tirei sempre lições.






4) A Rita para além da sua faceta de jornalista dedica-se também à escrita. Em 2006 surge juntamente com Eduardo Águaboa no romance, Vieste p@ra ser o meu livro. Acredita que numa sociedade cada vez mais globalizada, se perderam os velhos hábitos de socialização face-a-face, ou o espaço «dos bites e bytes» serviu para aumentar esses elos de ligação entre as pessoas?
Esse, curiosamente, é o tema da minha tese de Mestrado, ainda em construção... Sem dúvida que a “tecnologização” das relações criou novos conceitos de interacção. Se são passíveis de qualificação como bons ou maus, é discutível. A informação dialogante está acelerada, rápida, imediata. Mas isso é sinal de que está melhor? Não, não creio. A parede tecnológica, que é algo que intermedeia uma relação comunicativa, como um computador, um telefone ou os SMS's, intensifica a intimidade. Mas essa mesma intimidade não deixa espaço para toda a paralinguagem. Não existe o cheiro, as inflexões da voz, ou as expressões do olhar. Toda a linguagem corporal e facial perde-se. Por isso, sim... acho que os hábitos de socialização estão inegavelmente diferentes. Potenciam o contacto mas isso não significa que melhorem o contacto.




5) Já em 2008 juntamente com a jornalista Margarida Neves de Sousa surge como autora de uma obra mais jornalística, de investigação – Esmeralda ou Ana Filipa. Como é que uma jornalista consegue gerar emoções tão fortes neste caso concreto, onde ambas as partes revelavam querer o melhor para a menina, quererem a guarda definitiva de Ana Filipa no caso da Família Gomes ou de Esmeralda no caso do pai biológico, Baltasar Nunes?
Essa obra foi tremendamente trabalhosa. Aquilo a que se chama “uma verdadeira dor de cabeça”. Lemos milhares de artigos publicados, vimos horas de reportagens dos três canais, uma carga inexplicável de informação divulgada pelos media. Não nos é permitido, obviamente, adoptar posições mas revelar factos. E, neste caso em concreto, muitos dados não eram claros, não tinham sido divulgados correctamente ou com exactidão. E era inegável o interesse social e criminal do caso. Subitamente, era a novela da Esmeralda a que as pessoas assistiam todos os dias nos noticiários. Mas era de uma criança que se tratava... disputada por três famílias, a certa altura. Os meios de comunicação foram os culpados de verdadeiras barbaridades... fotografar a criança no primeiro dia de escola, filmá-la a gritar dentro do carro na passagem para o pai biológico. São momentos que, esperemos, sirvam para reflectirmos e não repetir.

6) A Rita é uma grande defensora da preservação da Língua, enquanto identidade Portuguesa. O que lhe apraz dizer sobre o acordo ortográfico?
Essa questão é curiosíssima porque assumi essa posição num espaço cibernáutico como o Facebook. Curiosamente, as pessoas mais directamente ligadas ao uso da língua portuguesa não foram perdidas nem achadas neste Acordo. Não, de facto, não concordo com os preceitos, os métodos e imposições. Não é uma questão de se preservar a rigidez da língua, mas de permitir a sua riqueza inter-continental. Não temos de falar todos da mesma maneira, não temos de uniformizar fórmulas! Os Ingleses dizem e escrevem garbage, os americanos trash. Os ingleses escrevem want to, os americanos utilizam com mais frequência o wanna. E então? São estas preciosidades que os tornam únicos.

7) Recorda-se ainda hoje do seu 1.º directo? Onde foi, que reportagem e que sentimentos a rodearam naquele momento?
Recordo-me do meu primeiro directo de televisão, sim. Mas não me recordo do de rádio, o que não deixa de ser curioso. O meu primeiro live em televisão nem foi como jornalista, mas como apresentadora do Curto Circuito Especial de fim-de-semana, no já extinto CNL. O Rui Unas e a Rita Mendes apresentavam de 2ª a 6ª e eu aos Sábados, com um painel de convidados, três horas em directo, sem teleponto. Maravilhoso. Correu muito bem. Na RTP, como jornalista, foi na estação rodoviária do Colégio Militar por uma greve qualquer. Estávamos em 2000.Quem me conhece sabe que não sou de grandes nervos ou inseguranças. Quando apresentei o Curto Circuito estava, inevitavelmente, tensa. Mas foi algo que ultrapassei nos primeiros minutos, quando ouvi no auricular “estás no ar”. Talvez por isso, o directo na RTP tenha sido feito com alguma tranquilidade. Não era novidade olhar para uma câmara, ouvir o “fala” no ouvido... Gosto muito do sem-rede, do é agora. É um pôr-me à prova de que gosto bastante e que confere uma adrenalina notável. E tenho um péssimo hábito: não escrevo nada, não faço anotações, não decoro discursos. Se por um lado é bom, - não fico agarrada a um fio que se pode perder ou sem capacidade de respostas face ao imprevisto,- por outro, se me esquecer de um nome ou de um número... Talvez por isso, goste da efemeridade do directo, do teste “tenho de dar o máximo de informação com clareza e veracidade”. A minha estratégia é simples: se tenho de partilhar uma informação com o telespectador, faço-o como se contasse algo a alguém familiar, num estilo informal mas incisivo e com as devidas distâncias discursivas, como se de um diálogo se tratasse em lugar de um discurso empinado.

8) Sente que a vida de jornalista na actualidade é difícil, pela sua precariedade, pela sua remuneração?
Não tenho a menor dúvida que estamos a passar por uma das piores fases do mercado jornalístico. Não há empregos. Não há lugar para as “fornadas” de jornalistas que saem das universidades, politécnicos, escolas profissionais. Muitas com um ensino duvidoso e programas desprovidos de qualquer sentido prático do ofício. Mas hoje, atenção, os jornalistas são mais bem pagos do que eram há uns anos valentes. Quando surgiram as televisões privadas, e mesmo antes, com os jornais de vanguarda, que foram uma autêntica pedrada no charco, como o Público e o Independente, os salários sofreram visíveis aumentos. Actualmente, vivemos um período negro... os estagiários não são remunerados, a progressão de carreira é lenta ou inexistente, e os salários não conhecem aumentos há muito tempo. Os jornalistas são dos licenciados mais mal pagos no início de carreira. Algo que me entristece muitíssimo. Há um congelamento de expectativas, de evolução. É difícil crescerem e surgirem novos nomes porque, constantemente, há areia na engrenagem...

9) O que a mais gratifica na sua profissão?
A intensa e permanente aprendizagem e o modo como mudamos a vida das pessoas. Que influências intensificamos, as convicções que se alteram, outras realidades que revelamos... e aquelas que nos são reveladas a nós próprios. Guardo as mais preciosas histórias e o prazer de ter privado com os mais ilustres anónimos que partilharam comigo experiências de vida riquíssimas. Essa é a grande virtude: aprender, experimentar, conhecer. É uma fonte inesgotável para uma sede de conhecimento que tenho.



Banda Aceh, Samatra, Indonésia, 2005
Tsunami no Sudeste Asiático

10) Grande reportagem ou pivô da informação? Porquê?
Não há qualquer dúvida quanto a isso... Grande reportagem sempre. Eu recordo que nem sempre tivemos pivôs jornalistas. Os pivôs eram apresentadores. Por isso, homens com um poder comunicacional brilhante, boa imagem e cultura-geral, eram pivôs. O Fialho Gouveia e o Carlos Cruz foram pivôs de informação, por exemplo. Hoje em dia isso já não acontece. Mas, mesmo assim, tenho a convicção de que a índole do repórter está no terreno, no campo, no toque e na vivência. Jamais teria espírito para ficar encerrada num estúdio, alterando pivôs propostos pelos jornalistas que executaram as reportagens... e são nessas que eu gosto de estar. São essas que eu gosto de fazer.

11) Considera que os media causam alguma influência na sociedade portuguesa? Em que sentido?
Não podemos ser ingénuos e considerar que os media têm um papel suave e superficial. Não, de todo. Eu recordo-me de um documentário feito na SIC para o canal Arte, por Mariana Otero... em Cette télévision est la vôtre, Emídio Rangel dizia, numa reunião , algo do género... que vendiam presidentes como vendiam sabonetes. E não está muito longe da verdade. Existem interferências mais ingénuas no que diz respeito a influência dos media, como um produto óbvio da máquina mediática que é o happening. A presença de comunicação social é produtora de happenings... uma manifestação com 5 ou 6 pessoas calmas e ordeiras, transfigura-se com uma ou duas máquinas de filmar. As pessoas gritam mais alto, têm posturas mais assertivas. Tudo isto é plausível. Depois temos as convicções transformadas em modelações da realidade. Essas são as evitáveis...




12) A Rita foi uma das jornalistas a fazer a cobertura no terreno na leitura da súmula do acórdão do Processo Casa Pia, no passado dia 3 de Setembro. Todos nós, público, vimos a observação que Carlos Cruz lhe fez nesse dia, aquando da sua intervenção sobre o arguido, dizendo que este revelava um passo apressado na sua entrada. Acha que nestas situações tão delicadas, muitas vezes os jornalistas são de certa forma inferiorizados, bodes expiatórios, que resulta na revolta dos arguidos?
Carlos Cruz não estava numa posição fácil e eu também não. Não é comparável ouvir uma sentença ao final de 5 anos e 10 meses de julgamento e estar em directo numa maratona. Não tenho a menor dúvida, mas eram momentos tensos para ambos e ele respondeu com alguma tensão defensiva. Percebo lindamente. Se existiam outros modos e fórmulas para responder e escoar essa tensão? Sim, claro que havia.
Os jornalistas são incómodos para quem não quer responder! São chatos para quem está constantemente a ser assediado por jornalistas, são inconvenientes quando as questões são postas recorrentemente... tudo é relativo. Depende de que lado se está. O meu trabalho é informar. Tentar, legitimamente, obter informação. Se tenho de ser chata? Às vezes. Compensa? A maior parte das vezes sim... É ingrato? Não tenho a menor dúvida.

13) Como é que vê a relação entre a política e o jornalismo na sociedade contemporânea?
Vejo com a singularidade normal das relações entre jornalismo e restantes editoriais e temas. A relação foi, noutra altura, mais promíscua. Talvez mais tácita. Hoje é algo mais distante, mais respeitoso. Os terrenos estão mais delimitados. E ainda bem.

14) Nos últimos tempos tem-se falado bastante no código deontológico do jornalista. Haverá alguma situação em que este possa ser violado, ou pelo menos deixado um pouco de parte, quando se quer passar a verdadeira informação ao público leitor -espectador?
Não me parece. O código deontológico, tal como código de Processo Penal ou qualquer regra instituída, é contornável. Mas existem violações e violações. Há princípios básicos que jamais devem ser postos em sob o prejuízo de se desvirtuar a natureza do jornalismo leal, rigoroso e imparcial.


15) A universidade é um pilar do jornalismo, ou é um dos factores que associados à prática jornalística se conjugam no bom jornalista?
Temos grandes jornalistas que nunca passaram pelo ensino superior. No entanto, as exigência da modernidade são muitas e requerem instrumentos que um perfil académico dá. A universidade não substitui a prática, o terreno, mas fornece-nos um conjunto de utensílios de reflexão, conhecimento e uma cultura mosaico imprescindíveis para a efemeridade e a rapidez quotidiana.

16) Como é que nasce uma reportagem exclusiva num canal de televisão, no seu caso a RTP?
Nasce como em outro canal qualquer. Uma investigação própria, uma denúncia, uma descoberta de documentos... qualquer exclusivo requer uma fonte própria, informações únicas, corroboradas e legitimadas.

17) Todos os dias tem mais a aprender com os seus colegas há mais tempo no jornalismo?
Todos os dias são dias de aprendizagem. Com os meus colegas mais novos, mais velhos, com os entrevistados... As referências jornalísticas são sempre excelentes consultores.

18) Quem são para si os jornalistas de referencia da actualidade? Porquê?
O Adelino Gomes é um nome incontornável, bem como o de Joaquim Furtado. Hoje em dia, o Eduardo Dâmaso, o Henrique Monteiro... o Zé Manel Fernandes. Pessoas que tiveram um papel determinante no panorama jornalístico português no pré e no pós 25 de Abril. Que tiveram o privilégio de presenciar e fundar jornais maravilhosos, num tempo áureo de turbulência social e mediática.

19) Que perspectivas têm para a sua vida profissional?
Continuar a contar histórias. E escrever muito. A escrita é a linguagem e a aplicação do verbo na qual me sinto mais completa. A minha carreira profissional tem de passar obrigatoriamente pelo prazer. Quando não usufruir do que faço, mudo de emprego, de ofício.

Muito obrigado!