Thursday, October 21, 2010

F-Se! Duende 31 & Duende 30 & Duende 37 & Duende 13 & Duende 20 & Duende 36.

31


Assim, um dia, viajei para norte
por ímpares estradas, sob o míssil doirado
diversamente chamado sol ou lua,
saber da tua sorte; vim dar
a esta superfície sem desenho
onde a terra e os gelos se misturam
e o silêncio é perfeito e permanente.
Fizeste, do teu rosto, um muro alto,
são dentes os teus dedos, fino seixo
o coração pequeno e ocupado,
e transformaste a língua num bocado
de areia fria misturado ao lixo.
E ainda assim persisto, porque sei
que por amor nos basta o que te tenho.


30


Já a luz se apagou do chão do mundo,
deixei de ser mortal a noite inteira;
ofensa grave a minha, que tentei
misturar-me aos duendes na floresta.
De máscara perfeita, e corpo ausente,
a todos enganei, e ninguém nunca
saberia que ainda permaneço
deste lado do tempo onde sou gente.
Não fora o gesto humano de querer-te
como quem, tendo sede, vê na água
o reflexo da mão que a oferece,
seria folha de árvore ou sério gnomo
absorto no silêncio de uma rima
onde a morte cessasse para sempre.

37

Já te abandono, e reconheço ao mundo
que te inventei um dia por brinquedo.
De não te conhecer fiz o sentido
que em memória nenhuma se contém;
deixei que fossem falsas as palavras
e que feitas de chamas me adornassem,
tradicionais, as pernas do pavão.
Sinto-me bem agora, um pouco triste
de te saber contente a uma esquina
qualquer, do antigo mundo humano;
medo, talvez, te foi de bom conselho.
Grandes nomes que dei ao que senti,
soantes rimas em que amei, te deixo
para que ninguém saiba o que menti.

13 


Como posso eu amar-te, se nem sei
como à porta te chamam os vizinhos,
nem visitei a rua onde nasceste,
nem a tua memória confessei.
Que vaga rima me permite agora
desenhar-te de rosto e corpo inteiro
se só na tua pele é verdadeiro
o lume que na língua se demora...
Não deixes que te enganem os recados
na infernal gazeta publicados
que te dão já por escultura minha;
nocturno frankenstein, em vão soprei
trompas de criação, e foste tu
quem me criou a mim quando quiseste.

20

Quero ser eu, um dia, aquela voz
que te faz ficar mudo e transparente
ainda quando diz os tolos versos
em que o amor se diz habitualmente.
Quero ter eu, desse modelo, os seios
e a cor da pele, e a sílica volúpia
e tão longos cabelos que te seja
mais fácil agarar-me pela nuca.
Cremoso como iogurte, e doce ao tacto
todo serei anúncio, mas servido
ao íntimo canal do teu ouvido.
Nem sei em que moeda me destroque
que pague o privilégio de em mim só
seres certo tu, e tudo o mais fingido.



36


Talvez agora, por divertimento,
me esmagues a cabeça contra um muro,
ou antes, por ser grande a minha ofensa,
com um pé nu me quebres a garganta.
É bem melhor assim, do que o rasgão
irregular e rombo das navalhas,
ou o silvo cortante das palavras
vibrando no ar frio como uma foice;
dá para ver a fina tatuagem
de uma cobra em redor do tornozelo,
ou admirar, em última mensagem,
a distinção da voz que me anoitece.
Antes assim que de cortês figura
a meio me cortares por desmazelo.





F-Se! O Poeta: "Ainda dura?" Y ouviu: "Dura." Y a reacção do Poeta: "Nunca vi nada assim, ...";  A duração & Adoração devem ter mais qualquer uma afinidade que não só a sonoplástica ...

PS.: Os Poemas-Sonetos são do Poeta que eu digo que é melhor do que todos os outros, juntos.

PS.2: Agradeço a aos Autores dos Blogs a postagem dos poemas que me pouparam o dedilhar: Quetzal; a raiz do tempo; trabalhar cansa 09; nEscritas ; O Bairro do Amor .