Thursday, May 15, 2008

F-se! Mitos da Violência&Paixão



Com tais palavras, a cólera do cruel tirano incendeia-se,/
e não menos o receio. Aguilhoado pelos dois sentimentos,/
puxa da bainha a espada com que estava armado, /
e, agarrando-a pelos cabelos, torce-lhe à força os braços /
atrás das costas e ata as mãos. Filomela oferecia a garganta,/
pois, à vista da espada, esperançara-se de que iria morrer. /
Enquanto a língua protestava e invocava o nome do pai, /
e se debatia para falar, ele agarra-lha com uma tenaz /
e corta-a com cruel espada. A base da língua lateja ao fundo/
A língua, essa jaz, trémula, a murmurar na terra negra, /
tal como costuma saltar a cauda cortada da cobra, /
e, a palpitar, ao morrer, busca o rasto da sua senhora./
Depois deste crime, diz-se que o rei (quase não ouso crer!)/
buscou vezes sem conta o mutilado corpo na sua lascívia. /



Tereu e Filomela. Livro VI Ovídio. Metamorfoses.
( Tereu transformou-se em Mocho. Filomela em Andorinha. A foto do mocho é de Joaquim Santos).


F-se! "Depois deste crime, diz-se que o rei (quase não ouso crer!)/
buscou vezes sem conta o mutilado corpo na sua lascívia." É como se a Palestina e/ou Israel fossem riscados do mapa.