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Monday, September 14, 2009
Adelaide de Sousa abre o coração e fala do pânico que viveu durante o parto
A apresentadora, de 40 anos, esteve quatro dias em casa em trabalho de parto, e tanto ela como Kyle correram risco de vida. Depois do susto, Adelaide e Tracy Richardson contam como tudo se passou.
É uma história com final feliz, mas tudo poderia ter acabado da pior forma, pois tanto Adelaide de Sousa como o seu filho recém-nascido, Kyle, correram perigo de vida. Durante quatro dias, a apresentadora, de 40 anos, passou por um sofrimento que não deseja a ninguém e só respirou de alívio depois de ter desistido, "por exaustão", de ter o bebé em casa e ter ido para a maternidade, onde, em apenas 20 minutos, o bebé nasceu, de cesariana.
Na última entrevista que deu à CARAS antes de ser mãe, Adelaide tinha expressado a sua vontade de ter um parto natural, em casa, onde poderia estar rodeada pela família, num ambiente confortável. No entanto, hoje reconhece que teria sido fundamental, pelo menos, ser monotorizada durante o parto, de forma a controlar os níveis de sangue e batimentos cardíacos. Nesta entrevista emotiva que Adelaide e o marido, o fotógrafo americano Tracy Richardson, de 47 anos, com quem está casada desde Julho de 2002, deram em exclusivo à CARAS, contam os momentos complicados que viveram e apresentam-nos o bebé, que nasceu no passado dia 17 de Agosto, às 42 semanas, com 3,780kg e 52cm. Ultrapassado o susto, Kyle encheu a casa e as vidas dos pais de felicidade e harmonia.
- Apesar de ter estado quatro dias em trabalho de parto em sua casa, acabou por ter que ir para a maternidade, ao contrário do que tinha planeado...
Adelaide de Sousa - Pois foi, foi tudo muito diferente daquilo que esperava. No entanto, a história teve um final feliz, porque a nossa ida para o hospital foi no limite do tempo. E ainda bem que consegui ter essa lucidez de ir para o hospital. Ainda por cima, a equipa de médicos e enfermeiros do hospital receberam-nos de braços abertos, o que também me deixou impressionada. Como se sabe, é complicado para os médicos terminarem o trabalho que outra pessoa começou, pode deixar um certo mal-estar, mas eles foram impecáveis do princípio ao fim. Curiosamente, acabei por encontrar no hospital o ambiente emocionalmente mais seguro que procurava, e isso para mim foi, de certa maneira, uma lição de humildade. Porque às vezes achamos que sabemos as coisas, e depois tudo se volta do avesso e temos de conseguir a presença de espírito para admitir que nos enganámos. Dei um passo maior do que a perna e tudo podia ter corrido muito pior.
- Se fosse hoje, repensaria a opção de ter o bebé em casa?
- Repensaria. Provavelmente, deixaria que o processo iniciasse em casa, mas depois iria para o hospital. Foram 36 horas de trabalho de parto contínuo, mas na verdade teve 80 horas de duração, porque começou numa quinta-feira à noite, com a ruptura da bolsa, interrompeu-se durante um dia e meio, e depois recomeçou no sábado à noite, e não parou até eu ter atingido o meu limite, na segunda-feira de manhã, e ter ido para o hospital porque já não aguentava mais.
- E não foi arriscado de mais as águas terem rebentado numa quinta-feira e só ter ido para o hospital na segunda?
- Claro, riscos que infelizmente só equacionei a posteriori, mas para tudo é preciso uma certa sabedoria, e eu limitei-me a seguir os conselhos que estava a receber...
- Era tudo novo para si...
- Sim, era tudo novo e eu tinha uma noção muito idealizada do que poderia ser um parto em casa. Continuo a defender a ideia do parto natural, com o mínimo de intervenção médica, mas as cesarianas também servem para as situações de emergência. E, neste caso, era a decisão correcta, tendo em conta as circunstâncias e tudo o que já tinha acontecido. Tanto quanto sabemos, o bebé ainda não estava em risco iminente, mas eu já estava. Desenvolvi uma infecção que só foi identificada quando, já no hospital, fiz os exames que deveria ter feito em casa. E aí apercebemo-nos que as coisas estavam bastante mais complicadas do que pensávamos.
- Correram mesmo risco de vida?
- O tipo de infecção que eu tive era o que matava as mulheres há 100 anos quando tinham os bebés em casa. A minha saúde ficou em risco durante bastante tempo e a saúde do bebé também começou a entrar em risco na parte final, o que originou a tal permanência no hospital por mais tempo, já que houve uma série de exames que tiveram de ser feitos, a mim e ao Kyle, para ter a certeza que estava tudo OK. Felizmente, o meu filho é muito forte, porque senão poderia ter havido problemas.
- O Tracy esteve sempre ao seu lado?
- Sim. Foi uma experiência traumática para os dois! Foi como se tivéssemos sobrevivido a uma guerra! Ele tentou o mais possível - e por isso é que não interveio - respeitar a minha decisão de ter o bebé em casa, e hoje claro que se recrimina por ter deixado que eu o fizesse. Porque é óbvio que um homem que está ao nosso lado, que viu o que viu, e não pode fazer nada... naturalmente ficou muito impressionado e abalado a nível emocional, assim como eu. Tudo o que nós passámos, todo aquele sofrimento extremo, intenso e longo, e, mais tarde, apercebermo-nos dos riscos que corremos, foi tudo um grande choque. O que mais queremos é proteger um filho, mas depois pomo-los em perigo por causa das nossas decisões, é um grande choque para uma mãe e para um pai. Mas é viver e aprender. [faz uma pausa, emociona-se]
- Tracy, deve ter sido complicado ver a sua mulher sofrer desta maneira...
Tracy Richardson - Foram os piores quatros dias da minha vida. Eu estava aterrorizado e assustado e, conforme se provou mais tarde, tinha razões para o estar. Apesar de não perceber nada de medicina, e de nunca ter visto um bebé nascer, o meu coração dizia-me que algo de muito errado se estava a passar com a minha mulher e que devíamos fazer algo depressa. Foram quatro dias de agonia, não só de agonia física, da dor no corpo da Adelaide, mas também da sua alma. Ela tinha a cara distorcida de tanto sofrer. Foi horrível, horrível. Eu chorei o tempo todo. Ela estava a gritar e eu estava a chorar. E não era nada disto que nós queríamos. Queríamos um parto em casa, onde nos sentimos seguros, para que o bebé viesse ao mundo e aos nossos braços cheio de alegria e amor. Ironicamente, isso aconteceu no hospital.
- Foi quando começou a chorar?
- Chorei tanto... Em Portugal dizem que os homens não choram, mas isso é uma treta, porque nenhum homem conseguiria passar pelo que a minha mulher passou durante 40 horas sem remédios. [emociona-se] Tenho agora o maior respeito pelas mulheres que já foram mães.
- Especialmente pela Adelaide...
- É como se tivéssemos sobrevivido a um desastre juntos. Quando duas pessoas totalmente estranhas passam juntas por situações muito más, ficam sempre muito próximas. Eu e a Adelaide temos agora um casamento completamente novo, é como se Deus tivesse unido as nossas almas. O nosso bebé está feliz, nós estamos muito felizes por ele estar aqui connosco, e tudo está bem. A nossa casa esteve cheia de medos, ansiedade, dor, confusão... E raiva, também, porque eu estava zangado por ver a minha mulher sofrer assim. E isso foi tudo embora, felizmente.
- Como é que foi o regresso a casa com o novo elemento da família?Adelaide - Essa foi a parte boa, mas é preciso dizer que, para o nosso regresso a casa acontecer sem nenhum trauma acrescido, o Tracy fez aqui um trabalho extraordinário durante a minha estada no hospital. Limpou a casa de cima a baixo, e resolveu pintar de outra cor o espaço onde tínhamos estado em trabalho de parto, para mudar o mais possível o aspecto daquele que seria o quarto do Kyle, porque tudo aquilo nos lembrava do que tinha acontecido.
Ainda bem que ele o fez, porque acho que não conseguiria olhar de novo para aquelas paredes... Corríamos o risco das memórias começarem a voltar, e temos que nos proteger a nós e ao bebé. Mas agora parece que é outro sítio, olho e não recordo o que passei aqui.
- Para o Tracy, pintar aquele quarto com novas cores deve ter funcionado como terapia...
Tracy - Sim. Foi o pai da Adelaide e um amigo nosso que pintaram o quarto, mas, naquela noite, assim que cheguei a casa, deitei fora tudo o que tivesse que ver com o parto em casa. Livros, tudo tinha que sair de casa, tinha que limpar tudo...
- Agora, felizmente, tudo está mais calmo... Com quem é que o bebé é mais parecido?
Adelaide - O Kyle tem os olhos azuis, o cabelo é clarinho, meio arruivado, e acho que vai ter caracóis, como o Tracy tinha em pequeno. A boca talvez seja parecida com a minha.
Tracy - Acho que ele não se parece nem comigo nem com a Adelaide. Se não o tivesse visto nascer, questionaria se era nosso. [risos] Ele parece muito esperto, como uma criança mais velha.
Adelaide - Acho que é uma mistura dos dois e, ao mesmo tempo, é uma cara diferente de tudo o que tínhamos imaginado. É muito estranho olhar para o nosso filho pela primeira vez... Ao mesmo tempo é muito giro ver que ele é uma pessoa por ele mesmo, que tem as suas próprias feições.
- Agora deve passar muito tempo a 'namorar' com o seu bebé...
- É tão bom... passo horas a olhar para ele. Toda a gente me diz para dormir quando ele dorme, mas não consigo. Fico horas a ver aquelas expressões dele a dormir, pareço uma tolinha.
- Ainda está a amamentar?
- Sim, ele é muito irregular. Tanto come a cada hora e meia, como pode passar quatro horas sem comer.
fonte. caras