CRUELDADE
Não sei chegar perto de ti/
sem outra razão/
— pendente —/
meu amor crescendo daninho/
por entre meu corpo puro;/
não sei, não sei como chegar sem doer o tempo,/
e apenas entrar como uma árvore dando fruto,/
sem ferir a duração das águas,/
sem o cessar anacrónico das noites de solidão/
ou das mãos doendo no veneno, no desejo, /
na privação do mundo ficando /
não sei, não sei como chegar, dizendo: nunca/
mais: a órbita é elíptica, os pólos achatados, o chão/
lume, e há uma âncora estribando na íris um país/
Vou ficar amor daninho/
porque não sei como chegar/
e ficar, ficar doendo-/
-te – no corpo, na artéria/
prazer ardendo/
Não sei, não sei como ficar/
noite amparando entre paredes as faces do rosto/
ou a luz doirando imagem do mundo/
ou despertando a sede /
depois do milagre irreversível:/
de ficar:/
com ambas as mãos presas ao cais,/
sem que embarques, sem que recuses/
sem que desprezes os olhos doendo/
Não sei como chegar perto/
e ficar/
desajeitado/
como a vida face à morte/
ao desalento ao contratempo/
sem receio, não sei, não sei/
dizer/
-te a crueldade e a nenhuma crença/
de viver novamente/
na profecia, no sortilégio, no silêncio/
Perdoa mas não sei dizer/
-te – a tristeza e o tormento /
do amor procurando em mim/
a terra, o caudal, o ar, o círio/
onde a luz te destrói sem mim./
Porque isto é uma terra onde já nem sonhar, desejar, imaginar, parece que se pode. (Sim, andam aí os puristas do sonho, do desejo, da imaginação.). Eu também tenho o meu devaneio, gostava como castigo (bom) ouvir a Ana Moura a Cantar esta Ópera. Sim. Eu sei que não é um Fado! É uma Ópera! Vá atirem lá as pedras! "F-se! Não sou Responsável pela tua Imaginação!" Vá, crucifiquem lá o Gato!
F-se! É uma Ópera, este não-Fado do Amor-Morto! Mas, não é Poesia-pffff!
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