"F-se! Civilização Capricho!
Hoje não me apetece a vida. Não me apetece mais esta vida, a que tenho. Sairei de casa e matarei quem me apareça à frente. Ficarei à espera para ver o que acontece. Sete mortos, algures, num país asiático. É sempre algures que o capricho acontece.
Não julgar os outros antes de chegar, estar, ficar no lugar deles, é um sábio conselho, tão disseminado que dispensa as aspas. O capricho da morte de ontem de um camionista é também esta civilização que entranhamos na pele, como a mais protectora e segura; mas um dia não nos apetece, depois vem outro dia em que o "não nos apetece" ganha mais corpo e sentido e peso, mais peso e força e não se aguenta mais esta coisa; extremamos o aparato dos actos para que estes não nos deixem impunes, não haja escapatória à impunidade, mas porque actos-extremos: atordoem (todos) e (a nós) nos resgatem da civilização que não nos serve para escaparmos à nossa capsular vida; ou, no calor dos ânimos, " o não me apetece" não passe de uma guinada de volante, contida nessa massa de fracções de segundos em que a carne se transforma em asfalto, e um homem sente a derrota, a derrota da sua carne despojada de coração e alma, pelo digladio de caprichos numa civilização que leva pouco a sério que na base dos "homens de boa vontade" os caprichos ganham cada vez mais lastro.
F-se!O Michael Haneke tem feito muitos filmes a ilustrar esta temática. Quem os tem visto?!”
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