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Tuesday, June 28, 2011

António de Almeida Mattos: A ilusão do breve

Quando te digo entende que me digo:
o entender-me vem pelas palavras
neste monólogo contigo.
Um lento haver de busca, e combinar
sentidos que consigo, a decifrar
o linear abismo que persigo.

António de Almeida Mattos
Fafe: Ed. Labirinto, 2010

Com um agradecimento a APS.

Thursday, June 23, 2011

Elegâncias - 60

Passa hoje o 2.º centenário da morte de Nicolau Tolentino (1740-1811). Aqui fica nas «Elegâncias» um dos seus sonetos mais conhecidos, uma sátira aos penteados altos:


Chaves na mão, melena desgrenhada,
Batendo o pé na casa, a mãe ordena
Que o furtado colchão, fofo e de pena,
A filha o ponha ali ou a criada.

A filha, moça esbelta e aperaltada,
Lhe diz coa doce voz que o ar serena:
– «Sumiu-se-lhe um colchão? É forte pena;
Olhe não fique a casa arruinada...»

– «Tu respondes assim? Tu zombas disto?
Tu cuidas que, por ter pai embarcado,
Já a mãe não tem mãos?» E, dizendo isto,

Arremete-lhe à cara e ao penteado.
Eis senão quando (caso nunca visto!)
Sai-lhe o colchão de dentro do toucado!...

Monday, June 20, 2011

Citações - 173 : Ainda Manuel António Pina

                                                ( Foto de Francisco Fortunato )

A poesia é feita e desfeita da volúvel matéria das palavras, dos seus murmúrios, dos seus sentidos, dos seus tantas vezes misteriosos propósitos. E das raízes das palavras no mundo onde desgarradamente se prende a solidão no mundo, do formidável poder das palavras não apenas de nomear mas de fazer o mundo.
Hoje sou menos ambicioso, já não escrevo poesia para mudar o mundo mas tão-só para evitar que o mundo me mude a mim. No entanto, como pode alguém proteger-se do mundo ( nem de uma constipação, quanto mais do mundo! ) atrás de uns livros de versos?

- Manuel António Pina, Fevereiro de 2006 em entrevista à VISÃO.

Thursday, June 9, 2011

Memória poética da guerra colonial

O Centro de Estudos Socais da Universidade de Coimbra, promoveu a edição (Edições Afrontamento) de uma "Antologia da Memória Poética da Guerra Colonial", cujo lançamento terá lugar em 15 de Junho, pelas 19h, no Auditório da CIUL, Picoas Plaza, em Lisboa, integrado no Colóquio/Debate "Os Filhos da Guerra Colonial: pós- memória e representações", coordenado pelos investigadores Doutota Margarida Calafate Ribeiro (Universidade  de Coimbra) e Doutor Roberto Vecchi (Universidade de Bolonha).
A antologia inclui o meu poema

No chão caído - ensanguentado.
Sonhos desfeitos - riso suspenso.
Nas mãos abertas havia mais
que o gesto de implorar.

Se era esperança
se era vida,
a morte veio
lenta, furtiva,
abrir as portas
de par em par.

Olhos abertos - fitando o céu.
Cabelo loiro - a esvoaçar.
Nunca ninguém saberá que mais havia
além do seu olhar.

( Tempo de Mar Ausente -1972)

Wednesday, June 1, 2011

No Dia da Criança - Matilde Rosa Araújo

Claude Monet, Jean Monet on His Hobby Horse, 1872


Oil on canvas, 60.6 x 74.3 mm, Metropolitan Museum of Art, New York


OS MENINOS

Os Meninos em si são flores
Flores doces mornas vindas de uma ilha de Sol
Suas casas no chão dobradas
Obscenas feridas na cidade meninos flores no chão
E vossas mãos tão meigas tão pequenas
Vossos olhos flores incendiadaS de ternura ausente
Doce violento perdão lhes assiste
Meninos de olhar de tocar milagrinhos de infância sofrida
incêndios do dia em casas nocturnas
E os olhos dos meninos estão tão abertos

Matilde Rosa Araújo, In Voz Nua , Livros Horizonte, 1986

Tuesday, May 24, 2011

Poemas - 46



O famoso Poème à mon frère blanc, de Léopold Sedar-Senghor.

Friday, May 13, 2011

A um Jovem Poeta, Manuel António Pina






A um Jovem Poeta

Procura a rosa.
Onde ela estiver
estás tu fora
de ti. Procura-a em prosa, pode ser

que em prosa ela floresça
ainda, sob tanta
metáfora; pode ser, e que quando
nela te vires te reconheças

como diante de uma infância
inicial não embaciada
de nenhuma palavra
e nenhuma lembrança.

Talvez possas então
escrever sem porquê,
evidência de novo da Razão
e passagem para o que não se vê.

Manuel António Pina, in Nenhuma Palavra e Nenhuma Lembrança, daqui