Porque sempre teve a felicidade de gostar de tudo o que fez, e porque não quis ficar sentado num banco de jardim à espera que um carro funerário lhe desse boleia, adiou o mais que pôde a idade da reforma, mas, aos 70 anos, foi legalmente obrigado a aposentar-se. Vinte anos depois, Artur Agostinho continua imparável: escreve crónicas desportivas no Record, lançou há meses o seu terceiro romance, participa regularmente em telenovelas e séries de produção nacional. Homem polivalente, experimentou todos os tipos de registo da comunicação: começou na rádio, escreveu nos jornais, deu a cara a um número sem fim de programas de televisão e a vários filmes portugueses.
Locutor, apresentador, jornalista, repórter de guerra, publicitário, actor e escritor, tornou-se um dos rostos mais populares da sua geração. Mas foram a sua belíssima voz grave e a sua dicção irrepreensível que lhe valeram os primeiros passos para a notoriedade, aos microfones da extinta Emissora Nacional, como relator desportivo, nos tempos em que aos domingos os ouvidos lusos se colavam aos transístores para acompanhar o mais em directo possível - a televisão chegaria bem mais tarde - os jogos de futebol. O seu famoso: "É gooooooloooooooo", que gritou pela primeira vez num Benfica-Porto, no final dos anos 40, ainda hoje persiste como um marco na história da rádio em Portugal.
Aos 90 anos, Artur Agostinho ocupa de pleno direito o lugar de veterano da comunicação portuguesa que o seu antecessor e mestre de referência Fernando Pessa deixou livre quando partiu, há oito anos. Por tudo isso, mas também pelo exemplo de dignidade, bondade e humildade que tem sido a sua vida, a organização dos Globos de Ouro atribui-lhe este ano o Prémio de Mérito e Excelência.
fonte: caras
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